Mãe é anjo; mãe devia ser eterna; mãe é amor incondicional; mamãe, rainha do lar. Ser mãe, padecer no paraíso. Toda mãe abre mão de tudo pelos filhos. Toda mãe se dedica sem esperar nada em troca. Mãe não se importa de abrir mão de si pois a recompensa é ver os filhos felizes. Dia do “você não é todo mundo”, do “chinelo na mão”, e por aí vai. Chegou o dia mais cheio de clichês do ano: o dia das mães.
A romantização da maternidade, comprada por toda a sociedade e por muitas mulheres, custa caro para as mães. A tarefa da maternidade é essencial e importante, mas no Brasil não vem sendo valorizada como deveria, pois a sociedade não se envolve na responsabilidade pelas crianças. Afinal, “quem pariu Mateus que balance”.
Vivemos em um país que preconiza, seguindo as recomendações da OMS, que o aleitamento materno deve ser exclusivo por seis meses, mas só concede às mães empregadas na iniciativa privada míseros quatro meses de licença maternidade. Onde uma mulher mãe sempre é questionada nas entrevistas de emprego sobre onde e com quem vai deixar seus filhos, porque eles “atrapalham”. Mulheres mães são preteridas em um emprego por causa de sua condição de mãe. Mulheres mães são deixadas sozinhas com seus filhos, sobrecarregadas com o peso do mundo em suas costas: nutrir, alimentar, acarinhar; pensar o que a criança vai comer, o que vai vestir, brincar. Tarefa de casa pra fazer. Tem aula online (para aquelas que têm computador ou celular em casa). Falando em aula online, a pandemia de COVID-19 escancarou a desigualdade dentro dos lares e a sobrecarga das mulheres, sobretudo as mães; 83,82% das mulheres sentiram maior sobrecarga em cuidar dos filhos durante a pandemia (leia a pesquisa aqui). 25,18% apresentaram sintomas depressivos; 26,76% ansiedade; 22,63% sintomas de estresse e 39,05% sintomas de estresse pós-traumático. Se a mãe não estiver entre as sete milhões de mulheres que perderam o emprego durante a pandemia (e aqui vale pensar nos recortes sobrepostos de classe e raça, pois 43% das mulheres negras arcam sozinhas com as despesas dos filhos e ocupam os postos de trabalho mais precários) haverá a sobrecarga (leia aqui) do trabalho doméstico somado ao cuidado das crianças e o trabalho fora de casa (ou em um home office feito em meio a refeições, choros e exigências de atenção infantil). Valorizadas no dia das mães, que rende bastante dinheiro mesmo em meio à pandemia (tendo em vista que o prefeito de Recife até aumentou o horário do comércio para que as pessoas possam comprar presentes), no restante do ano as mães permanecem sobrecarregadas, desvalorizadas e discriminadas em função do que é exaltado apenas hoje: sua condição de ter gerado uma vida.
Neste dia, o SINDJUD-PE se solidariza com todas as mães que hoje foram privadas de ter seus filhos consigo porque os perderam para a pandemia, para a violência de assassinos alimentados pela cultura de ódio a mulheres e crianças(como aconteceu em SC) ou para a violência do Estado(como em Jacarezinho e tantos outros que vieram antes e infelizmente ainda virão), e lembra que todos os dias são dias de valorização efetiva da maternidade, com políticas públicas decentes para que as mães possam estar com seus filhos, com divisão igualitária do trabalho doméstico e dos cuidados com as crianças e com tratamento isonômico no mercado de trabalho. Fazemos votos de que venham dias melhores para todas as mães brasileiras.
SINDJUD-PE
Gestão Lutar e Vencer!