Neste final de semana (25 e 26/03) ocorreu, no Centro de Formação e Lazer do Sindsprev, o I Encontro de Mulheres do SINDJUD-PE, com o tema “Mulheres e Trabalho no Mundo Contemporâneo”. Várias comarcas estiveram representadas, como Recife, Igarassu, Arcoverde, Limoeiro, Bezerros, Itapetim, Garanhuns, além de representantes dos sindicatos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foram cerca de 30 mulheres presentes, além das 10 palestrantes convidadas e funcionárias do sindicato, que estiveram juntas para debater as questões trazidas pelo evento.
O encontro teve início com a apresentação da passista Ruanna Oliveira e, em seguida, as organizadoras do evento, Ana Carolina Lôbo, coordenadora de Comunicação do SINDJUD-PE e Coordenadora de Gênero da FENAJUD, e Karyna Almeida, Coordenadora de Gênero, Raça e Etnia do SINDJUD-PE, deram as boas vindas a todas.
Na mesa de abertura, mediada por Ana Carolina Lôbo, com o tema “Trabalho Remunerado e Trabalho Reprodutivo: entre panelas, fraldas e produtividade, onde ficam as mulheres?”, a cientista Ligia Moreiras falou sobre as origens da reclusão das mulheres ao espaço doméstico e como acontece, atualmente, a reprodução desse trabalho não remunerado, confundido com amor, que permite a continuidade da exploração do trabalho das mulheres e as condições de reprodução do capitalismo. Moreiras ressaltou a necessidade de lutar para que esse trabalho seja respeitado e remunerado, e também que as mulheres precisam voltar a se organizar em comunidade, apoiando umas às outras.
A cientista salientou ainda que as organizações da sociedade precisam repensar os espaços e horários para criar igualdade de fato para a participação das mulheres e não apenas na teoria; citou o contratempo que sofreu em relação a sua filha, que teve que trazer consigo porque o pai da menina havia sido internado com complicações decorrentes da COVID-19, e ela não possui rede de apoio; e parabenizou o SINDJUD-PE por ter dividido os custos da passagem da filha, após ter solicitado isso da organização, pois são atitudes como essa que possibilitam que a sociedade mude, entendendo que a presença das mulheres nos espaços além das “cercas” dos lares depende, muitas vezes, da assunção da corresponsabilidade pelas crianças por parte da comunidade e das organizações. Em agradecimento, trouxe 25 exemplares do seu mais novo livro “Criando com amor em tempos de ódio” para serem distribuídos às participantes.
O segundo dia começou com a mesa “Assédio moral e sexual nos locais de trabalho, seus efeitos para as mulheres e formas de enfrentamento”, mediada pela coordenadora de assuntos jurídicos do SINDJUD-PE, Mariana Figueiroa, e fala de Luba Melo, sindicalista coordenadora da Internacional dos Serviços Públicos (ISP) Brasil, sobre assédio moral e a importância da luta para que o Brasil ratifique a Convenção 190 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que fala a respeito da eliminação de todas as formas de assédio.
Muitas mulheres falaram a respeito do tema, de como o Tribunal de Justiça de Pernambuco ainda está longe de ser efetivo no combate ao assédio, e foi ressaltada a importância de identificar as situações e condutas assediosas e procurar o sindicato. Foi informado que em breve o SINDJUD estará lançando a sua campanha contra o assédio e um dos filmes dessa campanha foi exibido, em primeira mão, para as mulheres presentes.
A segunda discussão do dia foi sobre o tema “A invisibilidade das mulheres na cidade e a luta pelo direito aos espaços”, mediada por Karyna Almeida. A fala inicial foi de Sully Santos, mulher negra, moradora da periferia do Recife, estudante de Ciências Políticas e diarista, que falou sobre como o direito à cidade é negado a mulheres de sua classe e condição, que precisam lutar diariamente pela sobrevivência, sobre silenciamento e descrédito à fala e à experiência. Em seguida, falou a arquiteta e urbanista Mariana Façanha, que começou com o questionamento “o que você já deixou de fazer por ser mulher?”. A palestrante falou ainda de como o espaço da cidade é hostil para as mulheres, que são assediadas e sofrem violência em diversos espaços, além da sensação de insegurança que é bem maior para as mulheres em relação aos homens. Finalizando com chave de ouro, a vereadora, professora e advogada Dani Portela trouxe diversas estatísticas sobre o desemprego e violência que atingem as mulheres; também dialogou em sintonia com o debate feito no dia anterior sobre trabalho doméstico e a necessidade de reconhecê-lo enquanto trabalho; sobre as profissões eminentemente feminizadas, que envolvem cuidado, como professora, enfermeira e sua desvalorização; sobre a importância de se reconhecer feminista, pois o feminismo é necessário diante de toda essa desvalorização e violência.
Confira mais registros do evento na galeria abaixo:
Após o almoço, os debates continuaram à tarde com a mesa “Mulheres e Organização coletiva: a importância de compartilhar vivências e espaços”, mediada pela conselheira fiscal Audisia Lima, na qual Janete Togni, diretora do Sindjus-RS, e Carolina Costa, diretora do SINJUSC e também coordenadora da FENAJUD, falaram sobre a importância das mulheres se organizarem em espaços que sejam só seus, de respeitar o seu próprio tempo, não tornando a organização mais uma tarefa entre tantas existentes, e de acolherem uma às outras. Ainda durante à tarde foi exibido um vídeo super especial com mensagens de mulheres sindicalistas de diversas regiões do país, parceiras de luta do SINDJUD-PE que puderam somar para a construção coletiva propostas pelo Encontro mesmo estando distante fisicamente.
Finalizando o momento de debates, ocorreu a oficina “Expressão de mulher”, na qual a facilitadora Mayza Dias colocou todo mundo pra movimentar o corpo e pensar acerca do quanto ele sinaliza para nós quando ultrapassamos nossos limites ou quando algo não está bem; as mulheres puderam expressar e ressignificar situações desagradáveis vividas no ambiente de trabalho, e Mayza fechou a atividade falando da importância de se compreender mulher trabalhadora, bem como da necessidade de organização coletiva para fazer o enfrentamento a situações violentas e para criar uma realidade mais justa para todas.
As organizadoras Ana Carolina Lôbo e Karyna Almeida agradeceram a todas as mulheres presentes, a todas as mulheres e homens envolvidas na organização do evento, e anunciaram a criação do Coletivo de Mulheres Flor de Mandacaru, do SINDJUD-PE, inspirado na planta símbolo de resistência do sertão nordestino. O coletivo dará continuidade à organização e lutas das mulheres no Judiciário pernambucano.
Por fim, vários brindes foram sorteados, entre kits da Cerveja Rosa Luxemburgo, livros, bolsas e camisetas trazidas pelas integrantes do Coletivo Não me Calo, do Sindjus-RS, camiseta da loja Golpe Store, entre outros.
O momento artístico e de descontração ficou por conta da cantora Karynna Spinelli e da DJ Isa Sena, encerrando o evento. Vale ressaltar que nos dois dias, foram disponibilizados recreadores e babás para as cerca de 14 crianças presentes no evento, com idades de 1 ano e 10 meses a 12 anos.
As organizadoras do evento falaram sobre suas impressões ao final. “Estou muito feliz, pois foi um público muito participativo que interagiu bem com todas as mesas e que compreendeu a necessidade de organização coletiva para que possamos modificar essa realidade que nos oprime. Buscamos proporcionar um ambiente acolhedor e mostrar ao movimento sindical que é necessário mudar para que as mulheres, maioria no Judiciário, possam participar de fato dos eventos e espaços”, afirmou Ana Carolina Lôbo.
Enquanto Karyna Almeida destacou que já passou da hora das mulheres se organizarem. “Nós sabemos que as mulheres estão exaustas, que querem falar a respeito dessa exaustão e desse acúmulo de trabalho remunerado ou não e que sentem a necessidade de fazer algo a respeito. Já passou da hora de nos organizarmos”, finalizou.
Algumas palestras do evento serão disponibilizadas nos próximos dias na TV SINDJUD-PE, canal do sindicato no YouTube (acesse aqui). Se você, servidora, deseja saber mais sobre o Coletivo Flor de Mandacaru, fique ligada, que em breve traremos mais informações!
SINDJUD-PE
Gestão Lutar e Vencer!
#PraCegoVer Fotografia em destaque na notícia traz registro das mulheres e crianças que estiveram no I Encontro de Mulheres do SINDJUD-PE, nos dias 25 e 26 de março de 2022, no Centro de Formação e Lazer do Sindsprev, em Recife. No texto há ainda uma galeria com mais nove fotografias de outros momentos do evento.